Seja bem-vindo ao Blog da paróquia santa Teresinha do Menino Jesus da santa Face, da arquidiocese de Belo Horizonte, na Barroca.

domingo, 20 de novembro de 2011

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

Popularmente conhecida como “Festa de Cristo-Rei”, esta celebração é a mais recente dentre as quatro chamadas “Solenidades do Senhor”, que a Igreja celebra no Tempo Comum. Sua origem se deve ao papa Pio XI, o qual, na Encíclica “Quas primas”, de 11 de dezembro de 1925, “desenvolve a idéia de que um dos meios mais eficazes contra as forças destruidoras da época seria o reconhecimento da realeza de Cristo”, na restauração de todas as coisas, como reza então a Oração do Dia, na referência ao projeto de Deus. Sua instituição comemorou o 16º centenário do Primeiro Concílio de Niceia, no qual se proclamou a igualdade substancial entre Cristo e o Pai.

Inicialmente foi fixado o último domingo de outubro para a sua celebração, tendo em vista a proximidade da Solenidade de Todos os Santos, “a fim de que se proclamasse abertamente a glória daquele que triunfa em todos os santos e eleitos”. Porém, com a reforma litúrgica do Vaticano II, sua celebração passou para o 34º domingo do Tempo Comum, último domingo então do Ano Litúrgico, com os textos da Liturgia, tanto bíblicos como eucológicos, fortemente voltados para o sentido escatológico e da realeza de Cristo.
O sentido da criação e da restauração do mundo em Cristo (cf. Cl 1,15-20), que se consumou na sua Paixão, Morte e Ressurreição, com sua vitória definitiva sobre a morte (cf. 1Cor 15,26), sendo o Cordeiro imolado digno de receber a glória e o poder (cf. Ap 5,12), traz realmente a característica principal desta solenidade: Aquele que restaura o mundo, nele próprio criado e nele próprio subsistente, é aquele também que vai exercer sobre ele a sua realeza, e esta transcende a dimensão temporal e cósmica, isto é, os domínios de um mundo visível. A realeza, pois, que se celebra nesta solenidade é total, plena e celeste, exercida à direita do Pai (cf. At 7,56; Hb 1,3-4; Ap 22,1).
Saibamos também que a realeza de Cristo é aquela que se manifestou no sacrifício da cruz, com seu paradoxo, com sua “loucura” e com sua simplicidade redentora. Portanto, “supera de longe o modelo davídico”, embora seja, biblicamente, de sua linhagem. Escarnecido por espectadores (cf. Mt 27,39-44), insultado pelo ladrão impenitente (Lc 23,39) e por soldados da vassalagem imperial (Lc 22,63-65), reverenciado, porém, pelas santas mulheres, dentre elas sua própria Mãe, estimado por discípulos e amigos, mesmo trêmulos e distantes, eis o quadro doloroso da Cruz. Mas, saibamos: em sua soberana realeza, ele pôde livremente dar ao ladrão arrependido a dimensão mais profunda de seu poder e de sua misericórdia, afirmando: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43), como vai concluir o evangelho da celebração do Ano C. E os Santos Padres comentam: se ele disse isto a um ladrão, certamente dirá o mesmo a cada cristão comprometido com o seu Reino.
Na verdade, “hoje”, ou seja, “agora”, para mim, para você, para todos, e não só para o ladrão arrependido, começa então de maneira viva, eficaz, definitiva e solene, o início da imortalidade, com nossa participação definitiva na realeza de Cristo, inseridos que fomos, pela graça batismal, no seu sacerdócio, graça que nos confere ainda a dimensão régia e profética para a nossa vida.
Na riqueza dos textos bíblicos, a Liturgia proclama que Cristo é a origem, o centro e o fim do universo criado, como também a sua consumação mais profunda, na medida em que o restaura e o entrega ao Pai (cf. 1Cor 15,24). O Rei da eterna realeza é então o mesmo, “ontem, hoje, e por todos os séculos” (cf. Hb 13,8), como também é “o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (cf. Ap 22,13).
É salutar para a nossa vida cristã saber que Cristo, no seu Mistério Pascal, fez de nós um reino de sacerdotes para Deus (Ap 5,10) e, ressuscitado, garantiu a nossa ressurreição, pois “Ele é o Senhor que destruirá também a morte como o último inimigo (cf. 1Cor 15,26). Assim a Igreja, unindo sua oração à riqueza da palavra bíblica, já no início da celebração vai permitir-nos rogar a Deus com o coração cheio de confiança: “...fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente”.
Podemos dizer que o Reino de Cristo é, pois, um reino que começa por dentro e que não se deixa corroer por forças exteriores, opostas a ele, ou não muito propensas a submeter-se a ele. É o reino da verdade, que dá testemunho da Verdade (cf. Jo 18,37), e não como os reinos deste mundo, que manipulam a verdade, fabricando-a a seu gosto, substituindo-a pela mentira, fazendo com que ambas (verdade e mentira) vistam a mesma roupagem e dando-lhes o mesmo conceito e o mesmo valor.
Diga-se mais, mesmo com a pobreza de nossas palavras: o Reino de Deus não é um reino de interesses mesquinhos, de vassalos e de escravos, mas um reino de amor, de servidores fiéis, cujo Senhor não se contenta com “servos”, mas que abre seu coração para a intimidade de “amigos” (cf. Jo 15,15) e de “irmãos” (cf. Jo 20,17). Nesse Reino, a sabedoria está oculta aos sábios, doutores e entendidos, mas revelada aos humildes e aos pequeninos (cf. Mt 11,25; Lc 10,21).
Finalmente, pode-se afirmar que esta celebração, colocada no fim do Ano Litúrgico, como que o coroa na glória do Cristo-Rei, no esplendor do Mistério Pascal, fazendo também ressoar em toda a Igreja e na vida de todos nós o caráter escatológico de toda a Liturgia e seu dinamismo santificador.
João de Araújo

Nenhum comentário:

Postar um comentário