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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O que é mesmo Pequena Via?


A expressão Pequena Via ou Pequeno Caminho aparece apenas duas vezes nos escritos de Teresinha. Essas citações aludem à descoberta feita pela santa em junho de 1897, quando afirma ter encontrado “um caminhozinho reto e curto, um pequeno caminho totalmente novo”, oposto à “rude escada da perfeição”, a qual ela admite não conseguir subir por sua “pequenez” e “imperfeições”. Considera-se inapta a escalar degraus tão árduos, referindo-se às duras penitências e sacrifícios impostos às Carmelitas à época. Este caminho todo novo irá conduzi-la à montanha da santidade e consiste em deixar-se carregar, como se fosse um “elevador”, pelos braços de Jesus. O dinamismo deste pequeno caminho brota da confiança na misericórdia divina, no amor salvador e santificante de Deus, ao qual Teresa se oferecerá como vítima no dia 9 de junho de 1895.

Essa descoberta do pequeno caminho foi precedida e preparada por uma longa busca da santidade e pela experiência de sua própria impotência. Desde que Teresa, aos nove anos, se dispõe a ser “uma grande santa”, vislumbra que esse ideal se realizará por um caminho “escondido”, no qual “os feitos heroicos”, como os de Joana d´Arc, são seriam necessários. Este modo de ver a orienta para a vida oculta do Carmelo. No Carmelo, Teresa se esforça por subir generosamente “a montanha do amor”, dispondo-se a conquistar a palma do martírio, conquistar a santidade pelo fio da espada, querendo amar a Jesus como ele jamais fora amado..

Porém, ao constatar a própria fraqueza, em 1893 Teresa se abandona cada vez mais à silenciosa ação santificadora do Senhor. Assim, a partir do verão de 1893, Teresa avança em seu pequeno caminho (que se torna sinônimo de “caminho da infância espiritual”, expressão criada por Madre Inês de Jesus e que Teresa jamais utilizou, mesmo que lhe agradasse muito a imagem bíblica do Menino). Caminha por esta via escura sem saber como Jesus fará para transformar seus esforços em crescimento na santidade.

A clareza virá graças à descoberta do pequeno caminho, no outono de 1894. Aceitando humildemente sua própria pequenez, Teresa se sentirá convidada pelo Senhor, exatamente por ser pequena. A partir desse momento ousará confiar e entregar-se incondicionalmente nos braços de Deus, braços do Verbo Encarnado, que a levarão e cumularão de graça, amor e santidade, “como uma mãe acaricia seu filho” Ela se dá conta de que deverá se fazer cada vez menor, cada vez mais entregue ao amor materno de Deus.

Quando em 1895 a jovem carmelita escreve sua vida, desde as primeiras linhas relerá toda sua existência à luz deslumbrante da “Misericórdia”, à qual se oferece como vítima no dia 9 de junho de 1895. Este “Ato de Oferecimento” é a definitiva consequência e a experiência orante do pequeno caminho, recentemente descoberto. Os primeiros parágrafos desta oração de “oferecimento” expressam claramente as linhas de força de sua concepção do pequeno caminho:

1) Desejo da santidade;

2) Experiência da própria impotência;

3) Abandono à ação de Deus. Ele mesmo será sua santidade;

4) Fé e convicção da legitimidade de seus imensos desejos à luz do amor salvífico de Jesus, “já que me amastes tanto – diz ao Pai – a ponto de dar-me como salvador e meu esposo vosso Filho único”.

Sobre esse pedestal de fé no Amor Misericordioso de Deus, e de outro lado, a humilde aceitação dos próprios limites, Teresa constrói a ponte da confiança, pela qual Deus vem buscá-la para levá-la às margens da santidade.

Em setembro de 1896, no Manuscrito B, carta magna do pequeno caminho, aí chamado de “pequena doutrina”, Teresa explica com mais detalhes sua ideia de “confiança” e de “abandono”, sua “loucura” por contar com a ação do “Verbo Divino”, que se lança de mil modos ao nosso encontro, pois veio exatamente chamar os pecadores.

O manuscrito B, testemunho de um crescimento espiritual que em Teresa jamais cessa, situa o pequeno caminho em seus contexto eclesial (ele é o meio pelo qual realizará a vocação de ser o amor “no coração da Igreja”), e define sua universalidade, à qual Teresa convida “todas as almas pequenas”. Já se esboça o programa das “pequenas coisas”, os “nadas”, cujo valor provirá do “toque” da mão do Senhor.

Na direção espiritual às suas noviças e a seus irmãos missionários, especialmente Maurice Bellière, Teresa refere-se a seu pequeno caminho nos detalhes da vida. Concretiza-o em outras imagens e o descreve com definições simples e amplas. Quando fala de sua missão após a morte, no centro de seu ensinamento situa o pequeno caminho, modo de “fazer amar ao bom Deus como eu o amor”.

C.D.M.

Fonte: Santa Teresa de Lisieux, Diccionario, Ed. Monte Carmelo, Burgos, PP. 88-91. Tradução livre: adrf

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