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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O NATAL DE SANTA TERESINHA




Para Santa Teresinha, a conversão é busca de perfeição que se tece no cotidiano, no enfrentamento das pequenas infidelidades que nos impedem de viver plenamente o dom do amor. Batalha para toda a vida, jamais chegará a seu termo aqui na terra: “... reconheci bem depressa, que quanto mais se avança nesse caminho, tanto mais se crê longe do termo; assim, agora, resignei-me a ver-me sempre imperfeita e nisso encontro minha alegria (MA 74r).” Resignada com sua imperfeição, Teresinha avança. Não nutre ilusões a respeito de si mesma. Aceita sua fraqueza, mas deseja atingir o cume da perfeição energicamente. Para tanto, mortifica-se. Sacrifica-se para se dominar, para se corrigir e se aperfeiçoar na caminhada para Deus. Abraça uma vida de "penitência interior", posto que lhe era muito difícil submeter-se a penitências físicas.
Sua busca de conversão cotidiana será sempre nutrida pela memória de um, noite extraordinária: a noite de Natal de 1886, a noite de sua "completa conversão". Ela retorna da Missa do Galo onde recebera o "Deus forte e poderoso" na eucaristia. Aos 13 anos é uma criança que vive o Natal como todas as crianças. Entra em casa apressada, à procura de seus presentes Mas seu pai já está farto dessas infantilidades.
Nessa noite Teresa tem sede de mudança e decide dar uma reviravolta. O golpe desferido pelas palavras do amado pai lhe mostra que não pode continuar criança. Não pode mais viver cobrando afeição. Precisa parar de chorar. Pare ela, isso se revela como um verdadeiro milagre: "Foi preciso Deus fazer um pequeno milagre para eu crescer de repente, e esse milagre se deu num dia inesquecível de Natal, nessa noite luminosa que ilumina as delicias da Santíssima Trindade, Jesus, a doce criancinha recém-nascida, transformou a noite da minha alma em torrentes de luz...” (MA 44v).
Pode parecer ironia: um Menino desperta em Teresa o desejo de deixar de ser Menina. Ela converte-se para ser independente, para buscar seus próprios caminhos. Converte-se para não precisar viver recebendo presentes, afagos e aplausos. E, mais ironicamente, deixa de ser Menina para se transformar em verdadeira criança nos braços de Deus. A partir daí, a busca de perfeição consistirá em fazer a vontade de Deus e não procurar submetê-Lo e os outros a seus caprichos infantis: "Jesus, que se fazia criança por meu amor, dignou-se desfazer-me dos cueiros e das imperfeições da infância".
Segundo testemunho da própria Santa, aí se inaugura o período "mais bonito, o mais repleto das graças do Céu" (MA 45v). Milagre, conversão, autoconfiança: " ... nessa noite em que se fez fraco e sofrido pelo meu amor, fez-me forte e corajosa, equipou-me com suas armas e, desde essa noite abençoada, não saí vencida em nenhum combate. Pelo contrário, andei de vitória em vitória e iniciei, por assim dizer, 'uma corrida de gigante"'(MA 45f).
A palavra "conversão" pode parecer muito pesada quando aplicada à inocente Teresa. Mas ela a usa textualmente. E no contexto das festas natalinas pode parecer inadequado evocar um termo que tem sabor quaresmal! Mas, se no Natal celebramos o nascimento do Amor, não poderíamos aproveitar essa data para renascer, para abraçar a Vida, escapando aos velhos esquemas de egoísmo, orgulho e vaidade "infantis"?
No Natal nasce a Vida. Numa perspectiva teresiana, essa festa sempre será um chamado à conversão. Haverá sempre algo a ser mudado em nós. Para despertarmos da inércia será preciso um "golpe" como aquele recebido por se Teresa? Ou, antes que ele chegue já poderíamos nos encaminhar até Belém as para adorar o Menino nascido em pobreza? Um "Feliz Natal" só trará real felicidade se nos trouxer de volta a alegre decisão de viver uma vida nova.

Pe. Antônio Damásio Rêgo Filho

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