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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Meditando o evangelho cotidiano


24 de outubro de 2011, Segunda-feira da 29º. Semana Comum - A


Lc 13, 10-17: Cura de uma mulher encurvada.


1. Ao serviço da libertação.

O milagre do evangelho de hoje, a cura de uma mulher encurvada, só é relatado por Lucas. Tem em comum com o que veremos na próxima sexta-feira, cura de um hidrópico, o fato de Jesus realizar ambos os milagres ao sábado, se bem que o primeiro na sinagoga e o segundo num banquete. Lucas apresenta três relatos de cura de doentes por Jesus ao sábado, diferentemente de Marcos e Mateus, que só narram a cura de um paralítico (cf Mc 3,lss). De acordo com isso, nos evangelhos sinóticos temos uma tradição que situa uma cura de Jesus ao sábado no âmbito da sinagoga e num contexto de polemica (cf Lc 6,1-11).

É provável que os três casos de Lucas constituam variantes de um milagre originalmente idêntico, pois as características repetem-se com fidelidade. Mais que um milagre em si, o que parece salientar-se é que acontece ao sábado, o que evidencia a atitude de Jesus e da primitiva comunidade cristã sobre a observância sabática.

Como a doença não é mortal em nenhum dos casos, Jesus podia ter adiado a cura para não "violar" o descanso sabático, como diz hoje indignado o chefe da sinagoga à multidão: "Há seis dias para o trabalho; portanto, vinde nesses dias para serdes curados, e não no dia de sábado". E óbvio que o destinatário destas palavras carregadas de rancor, mais que a multidão, é o próprio Jesus. Mas se este atua assim ao sábado, por iniciativa própria e sem que haja petição dos beneficiários, não é por menosprezo da lei sabática, mas para servir a libertação do homem.

Uma obra de caridade e misericórdia como a que Jesus realiza com a pobre mulher doente e encurvada há dezoito anos, mais que constituir uma transgressão do sábado, vem dar perfeito cumprimento ao sentido e finalidade do mesmo: a glória e o culto a Deus mediante a libertação do homem de toda a escravidão.

A resposta de Jesus ao chefe da sinagoga é um claro ataque aos dirigentes religiosos do povo judeu: "Hipócritas! Cada um de vós, ao sábado, não solta seu boi ou seu burro do estábulo para levá-lo a beber?". Argumento paralelo ao que Jesus esgrime quando cura o paralítico (Mt 12,11) e o hidrópico (Lc 14,5): permitis ao sábado o resgate de um animal acidentado. Por isso, apertando o cerco aos seus opositores, Jesus continua: "E a esta filha de Abraão que Satanás prendeu há dezoito anos, não convinha soltá-la no dia de sábado? Perante estas palavras os seus inimigos ficaram envergonhados".

2. O homem é glória de Deus.

Se antes Lucas anotou que a mulher recém curada por Jesus glorificava Deus, agora conclui dizendo: "A multidão inteira alegrava-se com todas as maravilhas que ele realizava". São pormenores que, como um refrão, Lucas repete em ocasiões similares. Pelo que se vê, o povo simples, graças ao seu instinto religioso, entende mais de Deus que os peritos, cegos pelo legalismo.

Adaptando-se à mentalidade judaica, Jesus insinua que a doença da mulher encurvada se deve ao espírito do mal. Já antes o evangelista fez notar que "estava enferma por causa de um espírito". Nesta perspectiva é evidente que a cura transcende o plano fisiológico para alcançar o nível libertador da pessoa em toda a sua profundidade. Assim se atinge a regeneração humana por meio da salvação trazida pelo Reino e que se baseia na misericórdia e no amor de Deus ao homem. Tal libertação não pode ser obstaculizada pela lei sabática.

Mas aos fariseus não lhes cabia isto na cabeça. O seu princípio era que primeiro está a glória de Deus, depois o bem do homem. Dissociar estes termos em plano de dilema ou disjuntiva encobre um erro teológico, vem dizer Jesus. A glória de Deus não se realiza à margem do bem do homem, não porque este suplante Deus como centro da realidade humana e cósmica, mas porque a honra e grandeza de Deus todo-poderoso manifestam-se precisamente na sua misericórdia e no seu amor ao homem, cuja vida é glória do seu Criador.

A observância do sábado (e de qualquer outra lei divina) tem de celebrar esse amor de Deus que quer o bem do homem, e não bloqueá-lo com formalismos ritualistas que Deus não aprova. Por isso Jesus afirmou: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado" (Mc 2,27). Isto é, a lei é feita para o homem, e não o homem para a lei; algo que nunca podemos esquecer.

Fonte: A Palavra de Cada Dia, B. Caballero, Ed. Paulus, Portugal

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